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Visitas regulares ao cirurgião-dentista podem ajudar na prevenção de doenças como o infarto agudo do miocárdio, responsável por matar mais de 70 mil brasileiros por ano

Não é de hoje que a ciência encontra relações entre doenças bucais e doenças sistêmicas. Havendo infecção bucal, é possível desenvolver doenças – como as do coração ou agravar outras, preexistente.

No entanto, mesmo diante de estudos científicos que atestam essas relações, os cuidados e a importância da saúde bucal ainda são negligenciados tanto por pacientes como por profissionais que não avaliam a prevenção das doenças bucais como mecanismo de precaução em relação a outras doenças. Entre as que podem ser prevenidas ou amenizadas, se houver o diagnóstico preventivo de infecções endodônticas e periodontais, está o infarto agudo do miocárdio, que atinge 300 mil brasileiros por ano e mata ao menos 70 mil no mesmo período.

Dessa forma, é fundamental que o cirurgião-dentista monitore a prática de higiene bucal do paciente, tratando precocemente toda experiência inicial de cárie dentária e doença periodontal, advertindo insistentemente sobre a importância do tratamento e da prevenção. “O cirurgião-dentista deve ter conhecimentos sobre as doenças cardiovasculares para direcionar seu planejamento, sua conduta e tomadas de decisão”, explica a doutora em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e cirurgiã-dentista do Instituto do Coração (Incor) Marcela Alves dos Santos Paul.

É fundamental que os pacientes com doenças cardiovasculares não só façam tratamento médico como também cuidem com afinco da saúde bucal. Na endocardite infecciosa (EI), por exemplo, bactérias ou fungos atingem o tecido endocárdio ou o material protético do coração.

De 40 a 45% dos casos des­sa doença se devem aos estreptococos do grupo viridans, comuns na cavidade oral, que podem penetrar na circulação e se alojar no coração, destruindo, por exemplo, tecidos valvares. Trata-se de uma enfermidade grave, que envolve in­ternação hospitalar de 45 a 60 dias, exigindo, para boa parte dos pacientes, o uso de antibióticos endovenosos bastante caros.

Em casos mais urgentes, além dos antibióticos, os pacientes são submetidos à cirurgia cardíaca para “limpeza” ou remoção da área comprometida, que é substituída por uma prótese cardía­ca. Pois bem: muitos casos dessa doença teriam sido evitados se o tratamento odontológico de rotina tivesse sido devidamente realizado. A remoção de focos bucais, por exemplo, abreviaria significativamente a internação do paciente.

Por isso, a melhor forma de evitar problemas cardíacos é prevenir as doen­ças bucais por meio de uma higiene correta, completa e frequente. Se necessário, deve-se proceder ao exame clínico e radiográfico odontológico periódico, que oferecerá a chance de diagnóstico e de intervenção precoces.

Incor

O Instituto do Coração realiza um trabalho na prevenção de doenças cardíacas por meio do diagnóstico de doenças bucais. A endocardite infecciosa, por exemplo, é uma doença grave, com alta morbidade e mortalidade, considerada de difícil diagnóstico em centros hospitalares comuns. O Incor, contudo, é referência no assunto pela capacidade de averiguar o problema, graças aos profissionais qualificados e equipamentos de última geração.

Mensalmente, chegam à Unidade de Odontologia do Incor de 10 a 12 pacientes com endocardite infecciosa por Streptococcus viridans. Os pacientes cardíacos que passam pela Unidade de Odontologia do Incor normalmente necessitam de cirurgia oral menor, tratamento clínico e cirúrgico das doenças periodontais e tratamento endodôntico e restaurador. Todos os exames clínicos são associados à avaliação de radiografia panorâmica e periapical, necessárias ao tratamento do paciente.

Tratamentos reabilitadores como implantes e próteses dentárias não são realizados, pois exigem acompanhamento posterior e envolvem grande número de sessões, que podem ser preciosas para outros pacientes que aguardam cirurgia cardíaca. A Unidade de Odontologia do Incor iniciou suas atividades há quase 40 anos, quando o instituto foi criado, valorizando a importância de oferecer atendimento odontológico especializado aos pacientes com doenças cardiovasculares. Hoje a área conta com uma equipe de cinco profissionais contratados, que atuam no tripé assistência/ ensino/ pesquisa. Cerca de 20 pós-graduandos, entre residentes e aprimorandos, são formados ao ano pela equipe. Ao longo dos dois anos de curso, eles adquirem conhecimentos teóricos e práticos que os habilitam ao atendimento daqueles pacientes.

“O principal objetivo de nossa missão é o que denominamos de preparo odontológico para cirurgia cardíaca”, explica Marcela. Pacientes em fase pré-cirúrgica de transplante cardíaco ou pulmonar, de troca ou plastia de valvas cardíacas, de correção de cardiopatias congênitas e de doença arterial coronária são avaliados e tratados pela equipe, para então serem liberados para cirurgia cardíaca.

Após alta hospitalar, ou após a cirurgia, o paciente é orientado e encaminhado à Rede Básica de Saúde para que o tratamento continue. Além disso, o Incor possui assistência em ambulatório, enfermarias, unidades de terapia intensiva (UTI), pronto-socorro e centro cirúrgico. Com isso, além dos pacientes ambulatoriais, que são o principal alvo de atenção no preparo para cirurgia cardíaca, a unidade atende também os pacientes internados e encaminhados pelas equipes médicas.

 

Fonte: REVISTA do CROSP